Sanguessuga
Hirudo medicinalis
(Linnaeus, 1758)
Clitellata – Hirudinida (anexo V da Diretiva Habitats)
Distribuição
Hirudo medicinalis Linnaeus, 1758 tem sido referenciada para o norte e centro da Europa, com registos mais dispersos no sul da Europa. Na última década, a distribuição das sanguessugas medicinais na Europa tem sido re-avaliada atendendo a que duas novas espécies foram re-integradas no género Hirudo, H. verbana Carena, 1820 e H. troctina Johnson, 1816, e uma nova espécie foi descrita em 2005, H. orientais Utevsky & Trontelj, 2005 (referências em Utevski et al. 2010). Estas quatro espécies são consideradas membros do complexo de espécies que engloba a sanguessuga medicinal Europeia H. medicinalis, a Mediterrânica H. verbana, a Causasiana H. orientalis e a Africana H. troctina (Kutschera 2012).
Registos anteriores a 1979 referem a presença de H. medicinalis em Espanha: em três locais na Galiza e num local na Cantábria, para a Região Atlântica, e em 15 locais para a Região Mediterrânica (Muñoz & Soriano 2012). Em 2008, Ayres & Iglesias, observaram H. medicinalis como parasita de Rana iberica em rios da Serra do Suido, Galiza.
Em Portugal, as únicas observações reportadas de Hirudo até ao início deste projeto foram efetuadas em charcos temporários do Sudoeste Alentejano: (i) no concelho de Odemira (Canha & Pinto-Cruz, 2010) e (ii) no sector B de charcos temporários do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (registo de MJ Caramujo, 2012). A confirmação taxonómica destas populações será efetuada durante as campanhas de amostragem da LVI, visto que os exemplares das espécies de Hirudo observados em 2012 apresentam caracteres morfológicos semelhantes a ambas as espécies Hirudo medicinalis (parte ventral) e Hirudo verbana (parte dorsal).
Habitat
Hirudo medicinalis ocorre em massas de água permanentes, que compreendem lagos, lagoas de montanha, remanços de rio e zonas húmidas com abundante vegetação aquática (Muñoz & Soriano 2012, Urugiu 2018). Idealmente estes locais serão visitados por mamíferos de cujo sangue se alimenta. No entanto, há referências na literatura em como pode sobreviver sugando o sangue de anfíbios e peixes (Muñoz & Soriano 2012, Urugiu 2018).
Biologia
As sanguessugas medicinais podem atingir 108.0 mm de comprimento, 10.0 mm de diâmetro, 4,0 mm de diâmetro de ventosa anterior e 5.5 mm de ventosa posterior. O padrão de pigmentação exterior permite a identificação de H. medicinalis embora exista alguma variabilidade na espécie. As manchas escuras da parte dorsal da sanguessuga são alongadas, o que contrasta com as manchas arredondadas ou quadradas em H. orientalis. As manchas escuras em H. verbana têm um padrão reticulado e são limitadas na zona mais dorsal por duas bandas laranja difusas. As manchas negras alongadas marginais em H. medicinalis coalescem formando listas escuras distintas e o padrão de pigmentação ventral é reticulado e irregular (Utevsky &Trontelj 2005).
Hirudo medicinalis parece ter a mais baixa fecundidade (11.10 ± 2.56 larvas por sanguessuga) relativamente às espécies próximas de sanguessugas medicinais H. verbana e H. orientalis (Petrauskienė et al. 2011). Hirudo medicinalis e H. orientalis parecem ser ambas sujeitas a selecção k relativamente a H. verbana que é uma r-estrategista que habita ambientes mais instáveis.
Estatuto de conservação
Classificada pela IUCN como Quase Ameaçada (NT). As pressões sobre as populações de sanguessugas, resultantes da colheita de espécimes na natureza para fins medicinais, declínio global de anfíbios, abandono das práticas tradicionais de pastorícia, poluição, perda e transformação de habitats aquáticos, levaram a que H. medicinalis fosse incluída no anexo V da Diretiva Habitats (Diretiva 92/43/CEE) e anexo III da Convenção de Berna (1979), com o intuito de regulamentar a recolha de exemplares na natureza e a sua exploração comercial. O comércio internacional de H. medicinalis e H. verbana é regulado ao abrigo da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção – CITES. Recentemente (Maio de 2019), a captura de quase 4.700 exemplares de H. verbana no aeroporto de Toronto, Canadá, mostra como a colheita de sanguessugas medicinais continua a ameaçar as populações naturais.Alente
Referências
Ayres, C. & Comesaña Iglesias, J. (2008). Leech presence on Iberian Brown Frog, Rana iberica, (Amphibia: Anura: Ranidae) from north-western Spain. Acta Herpetologica, 3 (2): 155-159.
Canha, P. & Pinto Cruz, C. (2010). Plano de Gestão de Charcos Temporários Mediterrânicos no Concelho de Odemira. Évora. ISBN 978-972-778-111-9
Kutschera, U. (2012). The Hirudo medicinalis species complex. Naturwissenschaften, 99: 433-434.
Muñoz, B. & Soriano, O. (2012). Hirudo medicinalis. In: VV.AA., Bases ecológicas preliminares para la conservación de las especies de interés comunitario en España: Invertebrados. Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente. Madrid. 51 pp.
Petrauskienė, L., Utevska O. & Utevsky S. (2011). Reproductive biology and ecological strategies of three species of medicinal leeches (genus Hirudo), Journal of Natural History, 45 (11-12): 737-747.
Surugiu, V. (2018). On the presence of the European Medicinal Leech Hirudo medicinalis Linnaeus, 1758 (Annelida: Hirudinea) in Romania. Travaux du Muséum National d’Histoire Naturelle “Grigore Antipa”Antipa”, 61: . 7-11.
Utevsky, S.Y. & Trontelj, P. (2005). A new species of the medicinal leech (Oligochaeta, Hirudinida, Hirudo) from Transcaucasia and an identification key for the genus Hirudo. Parasitol Res, 98: 61.
Utevsky, S. , Zagmajster, M. , Atemasov, A. , Zinenko, O. , Utevska, O. , Utevsky, A. and Trontelj, P. (2010). Distribution and status of medicinal leeches (genus Hirudo) in the Western Palaearctic: anthropogenic, ecological, or historical effects?. Aquatic Conserv: Mar. Freshw. Ecosyst., 20: 198-210.